Posso dizer que, nas primeiras semanas de vida da Isabella, eu não dormi. Cochilei. Eu me revezava com meu marido, um vigiava seu sono enquanto o outro dormia. Com a luz acesa. E o carrinho ao lado da cama. Dois zumbis, eis o que éramos.
Não, essa insanidade, essa loucura completa não começou do nada. Ainda na maternidade, a pequena teve seu primeiro engasgo. Sufocava bem ao meu lado, enquanto eu dormia. Surtei, acordei minha mãe, que ficou tão aflita que esqueceu que tinha parido três e saiu gritando por socorro pelo corredor. A enfermeira veio com cara de poucos amigos me dizer que eu não estava colocando minha filha para arrotar corretamente, que eu tinha que bater nas suas costas durante vinte minutos no mínimo, blablabá. Ótimo, ganhava ali minha segunda culpa (a primeira foi não ter conseguido trazê-la ao mundo pelas vias naturais, mas essa é outra história). Quase tinha matado minha filha porque estava com "preguiça" de fazê-la arrotar.
Então, passei a marcar no relógio. Não importava se ela tinha dado um arroto giga nos primeiros dez minutos e estava praticamente dormindo, o processo todo passou a durar vinte minutos exatos, cronometrados.
E foi então que ela quase sufocou uma segunda vez, em uma de nossas primeiras noites em casa. Sem enfermeira pra pedir socorro, sem avó parideira por perto. Em plena madrugada. Eu, que acabara de cochilar, abri meus olhos e vi minha bebê quase roxa ao meu lado, no carrinho.
Me lembro pouco. Tentei eu desentalá-la, depois meu marido, depois eu de novo, não sei quem conseguiu (meu HD tem essa qualidade, processo as sensações e armazeno apenas o panorama geral, ele me poupa de rever a cena angustiante outras vezes). O fato é que conseguimos: de repente ela começou a chorar e, portanto, respirar. Como fazer para voltar a dormir?
A adrenalina durou muitas horas, então ficamos algum tempo acordados, os dois. Mas a batida é puxada... os olhos pesam... a respiração vai ficando lenta, profunda... Enquanto conseguimos, mantivemos os turnos, mas claro que isso não durou muito. Até porque amamentar me consumia muita energia. As sessões de arroto sempre foram do pai, então eu, além de não dormir enquanto amamentava, passei a azucrinar meu marido em sua função. Quem merece?
Se toda mãe fosse informada, ainda na maternidade, que o bebê não é obrigado a arrotar após a mamada... que a maioria dos bebês amamentados ao seio não arrota, porque a entrada de ar é facilitada pela mamadeira... que os bebês devem ser mantidos na vertical independente de arrotarem porque seu sistema digestivo ainda está aprendendo a funcionar e pode haver refluxo, mesmo depois do maior arroto do mundo... que pode relaxar durante esses minutos, não precisam ficar batendo nas costas de seus pequenos... aliás, um que vê diz que você está batendo forte demais, o outro acha que você está batendo muito fraquinho... Mãe sofre! Pai também, aqui em casa era meu marido que ouvia os pitacos sobre o arroto, pra mim sobravam os relacionados ao leite materno... ah, que saudade!
A verdade é que ninguém, eu disse ninguém, nem com todos os cursos, nem com o instinto mais apurado, ninguém está preparado pras primeiras noites (e quando eu digo noite estou englobando os dias que aparecem entre elas) com seu primeiro filho. Com o segundo não sei, pretendo descobrir um dia. ;-)
Não se apavore comigo se você ainda não tem o seu pinguinho: a gente pega o jeito, e pega rápido. Na marra. Eles mostram rapidamente pra gente qual o ritmo da dança (isso mesmo, eles, não se engane). Mas a sensação de despreparo fica. A minha, pelo menos, me assombra sempre que alguma decisão importante tem que ser tomada. Embora eu tenha a plena convicção de que sou uma excelente mãe, sendo a melhor mãe que eu posso.